domingo, 11 de setembro de 2011

O Verão




Estás no verão,
num fio de repousada água, nos espelhos perdidos sobre
a duna. 
Estás em mim, 
nas obscuras algas do meu nome e à beira do nome 
pensas:
teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó,
sepultada rosa do desejo, um homem entre as mágoas.
És o esplendor do dia, 
os metais incandescentes de cada dia. 
Deitas-te no azul onde te contemplo e deitada reconheces
o ardor das maçãs,
as claras noções do pecado.
Ouve a canção dos jovens amantes nas altas colinas dos
meus anos. 
Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas, os 
rituais que previ.
Uma colmeia explode no sonho, as palmeiras estão em
ti e inclinam-se. 
Bebo, na clausura das tuas fontes, uma sede antiquíssima.
Doce e cruel é setembro.
Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.


Autor :José Agostinho Baptista
In Paixão e Cinzas (1992)



Foto: The Professo

3 comentários:

mfc disse...

A beleza da ternura imensa que o amor encerra!
Lindíssimo.

Mar Arável disse...

Tudo se move

no sentido do voo

Manuel Veiga disse...

cinzas ardentes...

gostei muito do poema.
mais uma revelação

beijos